Que local na sua cidade é o mais importante pra você? Foi com esta questão que a bailarina Patrícia Machado e o fotógrafo Tom Lisboa abordaram os moradores de Assis Chateaubriand, Lapa, Jacarezinho e Prudentópolis, no interior do Paraná. A ideia de conhecer estes locais por meio da perspectiva de seus habitantes era a proposta inicial do projeto Coreo(codes): Movimentos Codificados em Espaços Singulares cujo resultado foi materializado na forma de um livro.
Coreo(codes) é um livro sobre cidades e resgata a sensação de pertencimento ao local em que se habita por meio da subjetividade de quem ali mora. Essa história, no entanto, é contada de uma forma bem singular. Ela combina depoimentos, fotografias desses lugares e QR Codes que transferem o leitor para uma experiência dançada em cada um dos locais escolhidos.
O desejo de realizar este projeto nasceu em 2016, mas só se concretizou em 2021, em plena pandemia da Covid-19 e, por causa disso, algumas ações tiveram que ser adaptadas para o formato virtual. O primeiro uso foi para selecionar os participantes. A produção de Coreo(codes) fez circular nas redes sociais uma convocatória para os moradores destes locais participarem de um projeto de dança, mas que não era necessário nenhum tipo de experiência prévia. Já a plataforma zoom foi fundamental na realização das oficinas ministradas sob orientação da bailarina e coreógrafa Patrícia Machado. Foram cinco encontros com cada grupo das cidades selecionadas. Nesta etapa, os participantes eram incentivados a improvisarem movimentos e produzirem pequenas coreografias inspiradas em lugares com os quais eles tinham uma conexão afetiva. O encontro presencial só acontecia quando o grupo de uma cidade concluía suas criações coreográficas. Aí a equipe se deslocava até o município para Tom fotografar e filmar o que havia sido ensaiado nos lugares escolhidos pelos participantes. Foram mais de dois mil quilômetros percorridos pelas estradas do Paraná para realizar estes registros.
“Mesmo tendo realizado grande parte do projeto de forma virtual, criamos um vínculo afetivo com os moradores, era emocionante conhecê-los presencialmente no dia das filmagens. Partilhamos histórias íntimas ao longo do processo, relata Patrícia.
A bailarina e coreógrafa conta o quanto foi interessante discutir território, corpo, movimento e modos de pertencer e criar presença nos espaços justamente no período em que lidávamos com as restrições impostas pela pandemia.
“Nesses últimos anos fomos sendo obrigados a voltar nosso olhar para os ambientes. A questão corpo-espaço mudou completamente. Ao longo do processo de criação os próprios participantes foram questionando o que entendiam como lugar e o que para eles fazia mais sentido, o que de fato tinha importância. Eles trouxeram para o trabalho lugares como a sala da casa, o colo da vó. A dança serviu como ritual para despedidas e reconhecimento dos espaços”, revela.
“Uma das belezas do projeto foi o modo como os participantes nos abriram suas vidas e mostraram, em seus corpos, um pouco de sua história e como se relacionam com o lugar onde vivem”, acrescenta Tom.
Enquanto Patrícia provocava as narrativas, Tom era o responsável por ilustrá-las. Coreo(codes) reúne 27 coreografias/performances que são acessadas por QR Codes, resultado do registro fotográfico de Tom Lisboa que foi transformado em stop motions. As animações foram compostas, cada uma, por cerca de 300 fotografias editadas e tratadas individualmente. “Utilizei como referência um stop motion que vi na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, Mantenha-me em Pé (Tiens-moi droite, 2012), da cineasta francesa Zoé Chantre. Era uma espécie de "filme rascunho", que era continuamente apagado e refeito. Achei poeticamente impactante porque a vida é uma obra que não se passa a limpo, está sempre em processo. Como eu nunca havia trabalhado com esta técnica, foi desafiador, mas sobretudo pelo volume de trabalho. Para cada coreografia com duração de um minuto eu precisava ter pelo menos 300 fotos que eram tratadas uma a uma”, conta o fotógrafo.
“Essa técnica escolhida pelo Tom nos ajudou a compreender a imagem do movimento como rastro do que deixamos de nós nos lugares, rastros silenciosos, mas repletos de vibração”, comenta Patrícia. Coreo(codes) se revela, para mim, como uma dança poética de coexistência no lugar que integra o visível e o invisível de habitar um tempo-espaço”, completa. “A conexão criativa que se estabeleceu com a equipe e com cada um dos participantes foi muito gratificante, este projeto possibilitou que descobríssemos novas potencialidades em nós mesmos”, conclui Tom.
Para assistir as coreografias de Coreo(codes) é preciso apontar a câmera de um celular para o QR Code das páginas do livro. Os stop motions não têm som, mas incluem uma indicação de trilha sonora sugerida tanto por Patrícia, quanto por Tom e por quem realizou a performance.
Coreo(codes) está sendo comercializado via instagram do projeto: @coreocodes
Projeto realizado com o apoio da Copel, por meio do PROFICE (Programa Estadual de Fomento e Incentivo à Cultura), da Secretaria de Estado da Cultura – Governo do Estado do Paraná.
Sobre os criadores Patrícia Machado é bailarina, coreógrafa, performer e artista docente. Tem formação em Dança pelo Institut del Teatre de Barcelona, Espanha, mestrado em Mediações Educacionais em Artes, pela UNESPAR e é doutoranda em Pedagogia das Artes Cênicas, na UDESC. Atuou na Leine and Roebana Dance Company – Amsterdam, It Danza Joven Compañia –Barcelona, CEDECE – Companhia de Dança Contemporânea – Lisboa e no Balé Teatro Guaíra, Curitiba. Interessada na causa do refúgio e migração, desde 2016 desenvolve trabalhos coreográficos e performativos com a temática. É idealizadora e colaboradora de diferentes projetos na transversalidade da arte e educação como o Criança que Dança Haiti, projeto que promove performances e atividade artísticas com jovens em situação de vulnerabilidade social em Porto Príncipe, no Haiti e o Visita Guiada. Cofundadora do Coletivo Nós em Traço, grupo de artistas interessadas em alternativas para arte e educação através do diálogo entre o corpo, movimento e traço.
Tom Lisboa tem Mestrado em Photography and Urban Cultures, pela Goldsmiths, University of London e Mestrado em Comunicação e Linguagens, pela Universidade Tuitui do Paraná. Atua como artista visual, professor de cinema e fotografia, curador independente e está radicado em Curitiba desde 1987. Em 2020, recebeu, do estado do Paraná, o Prêmio de Reconhecimento por Trajetória Cultural Aldir Blanc. Em 2018, foi agraciado pelo governo britânico com o prêmio Chevening Awards, um programa de bolsa de estudos internacional que permite que profissionais com qualidades de liderança de mais de 160 países e territórios realizem estudos de pós-graduação ou cursos em universidades no Reino Unido. Em 2012, recebeu o Prêmio FUNARTE Marc Ferrez de Fotografia e, em 2005, o Prêmio Porto Seguro de Fotografia, na categoria pesquisas contemporâneas, com a série polaroides (in)visíveis. Neste mesmo ano, foi ainda mapeado pelo Rumos Itaú Cultural. Foi um dos artistas convidados da Bienal de Cerveira(2013), em Portugal; Photovisa(2015), na Rússia e Encuentros Abiertos(2008), na Argentina. Participou ainda dos principais festivais de fotografia do país (Paraty em Foco, Fest POA, Foto Arte, Semana da Foto em Curitiba).
Ficha Técnica
Concepção e Criação: Patrícia Machado e Tom Lisboa
Direção de Movimento: Patrícia Machado
Fotografia e Stop Motion: Tom Lisboa
Montagem: Lívea Castro
Projeto Gráfico: Letícia Lampert
Revisão Português: Ana Guida
Revisão Inglês: Liane von Mühlen
Texto dos participantes e tradução para inglês: Tom Lisboa
Produção: Artéria Cultural
Assistente de Produção: Alessandra Lange
Publicação: Drops Cultural
Rede Social: Ana Paula Luz
Assessoria de Imprensa: Glaucia Domingos
Serviço: Livro Coreo(Codes): Movimentos Codificados em Espaços Singulares
Contato/vendas: @coreocodes (instagram)
Produção Alessandra Lange [email protected] 41 99644-9573
Assessoria de Imprensa Glaucia Domingos [email protected] 41 99909-7837